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Diário de bordo: Construindo meu primeiro traje

  • femmeborda
  • 5 de out.
  • 5 min de leitura

Olá, queridos histéricos! Hoje compartilho com vocês um pouco do processo de construção do meu primeiro traje histórico, que usei no nosso 3º Encontro Nacional de Costura Histórica, no Museu de Arte Sacra no dia 27 de setembro.


Este post foi inicialmente escrito em maio deste ano, mas assim como a construção do traje, ele foi adiado e adiado. Decidi deixá-lo na sua versão original e, no próximo post, contarei sobre o que saiu do plano inicial. Agora, vamos ao post!


Como todo projeto, este iniciou com uma vontade, a de construir um traje que eu sempre achei lindíssimo, mas que também estivesse dentro das minhas habilidades (coisa que ainda vamos descobrir). Pois apesar da minha experiência costurando e dando aulas, a modelagem e construção de peças históricas difere muito dos métodos modernos!


O Modelo Escolhido

Como boa cadelinha do século XVIII, tinha a certeza que queria um modelo desse período. No início do ano comprei o livro The American Duchess Guide to 18th Century Dressmaking, o mesmo indicado pela Luana neste post, então aproveitei para já colocar em prática o seu conteúdo e escolhi o Italian Gown para me aventurar (inclusive, é o vestido que ilustra a capa do livro).


Italian Gown do livro The American Duchess Guide to 18th Century Dressmaking https://blog.americanduchess.com/2018/01/2017-costuming-year-in-review.html
Italian Gown do livro The American Duchess Guide to 18th Century Dressmaking https://blog.americanduchess.com/2018/01/2017-costuming-year-in-review.html

O Italian Gown, também chamado de Robe a la Anglaise, é um modelo de traje usado a partir de 1770, caracterizado principalmente pelas costas ajustadas ao corpo, composta por 2 ou 4 painéis.


Fotos: LACMA Museum Archives e MET Museum https://www.metmuseum.org/art/collection/search/84611


Quando usado a retroussée, é facilmente confundido com o Robe a la Polonaise pelo volume traseiro da sobressaia (inclusive muitas fotos de museus mostram os modelos com esse nome), a diferença está no fato do Polonaise não ser ajustado ao corpo e suas pregas nas costas se conectam diretamente à sobressaia que é erguida, enquanto no Anglaise retroussée, além do ajuste ao corpo, a saia é feita em um painel de tecido separado, unido na cintura.



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Fotos do blog francês Temps de Elegance https://tempsdelegance.com/polonaise-making-of/
Fotos do blog francês Temps de Elegance https://tempsdelegance.com/polonaise-making-of/

Escolhas, escolhas, escolhas...

Quero deixar claro que neste primeiro traje meu objetivo não é o ápice da acuracidade histórica, mas sim me divertir. É a realização de um sonho poder usar um traje costurado por mim (junto de peças feitas por amigos queridos) e, apesar de ter pesquisado e seguir pesquisando conforme este projeto avança, não encanei em fazer deste um projeto complexo e profundo. É minha primeira tentativa e, como iniciante nisto, me dou o direito a uma certa liberdade poética haha.


Dito isso, repasso aqui como conselho as instruções da nossa célebre colunista e diretora Juliana Lopes de, antes de efetivamente começar a costurar, definir um personagem histórico para te direcionar nas escolhas para o traje. Se pergunte "Onde ele mora? Qual sua classe social?" para te ajudar a fazer melhores escolhas e te guiar na pesquisa. Eu fiz isso? Não.

Minhas escolhas se limitam às orientações do livro, os tecidos que eu já havia comprado e o que eu considero esteticamente agradável e aceitavelmente de acordo com o período escolhido. Que isto sirva de incentivo para outros iniciantes irem sem medo e sem se cobrarem tanto!


Com esse contexto, escolhi fazer meu traje costurado à máquina, com alguns detalhes feitos à mão (afinal, sou bordadeira e minha tendinite me impõe limites), com materiais que foram comprados no ano passado com este traje em mente e mais alguns escolhidos especificamente para ele, com fibras naturais e outros sintéticos, sem crise.


Materiais

O tecido para a saia é o Cotton Linen da Ibirapuera têxtil num tom bordô. Composto por linho e algodão, tem uma boa estrutura e peso sem quebrar a banca, além de fugir da viscose que daria uma fluidez que eu não desejava para essa peça.

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Já para a parte de cima, escolhi um tricoline estampado da Niazi Chohfi. A estampa é perfeita para o período, quando o algodão estampado na Índia já era extremamente famoso. O tecido é bem fino e leve, comprei 10 metros dele na Mega Artesanal do ano passado por cerca de 23 reais o metro. Um surto, mas que valeu a pena.

Como é muito fino, talvez eu ainda use algodão cru por baixo da sobressaia para dar mais volume, ou goma.

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Para o forro, também na Niazi encontrei um tecido misto de linho com outra fibra que não me recordo se era algodão ou viscose. Leve e macio o suficiente para ficar confortável e num preço bom o bastante para eu fazer o mock up sem dó.

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Como sou apaixonada por esse detalhe de babadinhos no final das mangas, talvez eu compre rendas de tule bordado (que é de poliéster) para incluir no meu traje, independentemente se está um pouquinho atrasado para a época escolhida. Eu gosto, eu quero, eu costuro.

Vestido feito na costa Coromandel, na Índica, circa 1760-1770 https://collections.vam.ac.uk/item/O73105/overdress-unknown/
Vestido feito na costa Coromandel, na Índica, circa 1760-1770 https://collections.vam.ac.uk/item/O73105/overdress-unknown/

Mãos à obra!

Meu conselho é começar um traje de dentro para fora. As roupas de baixo ou são as mais fáceis de se construir (como as chemises e os enchimentos), ou são essenciais para a construção da silhueta e as peças externas vão depender das suas medidas usando elas (como os stays).

Como eu já tenho uma chemise, o stays foi encomendado com o Paulo e meu plano é reaproveitar o bumpad que fiz no ano passado, comecei a costurar pela saia, que é regulável.


Com 3 metros do meu tecido em mãos, rascunhei alguns esquemas num papel e cheguei neste diagrama final com as medidas de cada parte para cortar.


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A saia foi feita seguindo este tutorial do canal do Costura Histérica, com o acréscimo de um babado na barra, inspirado neste modelo:

Fashion Plate de 1778
Fashion Plate de 1778

O livro instrui a fazer uma prega macho larga no centro do painel da frente e das costas, com medida de 15cm e as demais pregas, em cada direção, com cerca de 2,5cm. Este tamanho pode ser adaptado de acordo com as suas medidas e a da sua saia, mas felizmente para mim, deu certo de primeira!

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Montei a saia exceto pela barra e os babados, pois como ainda estou insegura em relação ao bumpad, só irei cortar a barra quando isto estiver decidido.


Ao mesmo tempo, fiz a modelagem do forro da parte de cima, seguindo as instruções do livro. Infelizmente este livro não dá as medidas finais da peça ou as medidas do corpo da modelo, mas sugere que corte o molde com uma margem de até 5cm para ajustar no seu corpo conforme necessário. Eu, medrosa que sou, copiei os moldes sem margem para arquivar e outra cópia com os 5cm.


A próxima etapa será cortar o mock up e fazer os ajustes, que ficará para um próximo post!

Se você leu até aqui, agradeço por acompanhar o início da minha jornada e espero que a mensagem que fica é: TENTE!

Se arrisque, dê seus primeiros pontos, corte sua primeira saia.


Temos muito material, gratuito e pago, aqui no blog, no nosso canal do YouTube e até no Instagram.

Comece! Comece com um tecido barato para cortar sem medo, comece com o que já tem em casa, mas concretize esse desejo de se vestir com uma época que vc é apaixonado. Prometo que vale a pena.


Que Athena e as fadas da costura guiem nossas agulhas e tesouras, em breve voltarei com mais a atualizações!


Fontes



 
 
 

4 comentários


Victoria🩷
06 de out.

Meti na minha cabeça tem dias que ano que vem eu PRECISO montar um traje do século XVIII, teu post me deu ainda mais vontade, ainda mais tendo visto e resultado e sabendo o quão lindo ficou!

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femmeborda
07 de out.
Respondendo a

Só vai, querida! É uma jornada mas vale muito a pena, tanto que já estou pesquisando para o próximo traje <3 Com seu bom gosto, tenho ctz que ficará lindo

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Convidado:
05 de out.

Mesmo pra mim, que não entendo nada de costura, seu texto foi muito gostoso de ler, me senti numa jornada. Deu pra entender bem as referências e suas escolhas de tecidos e de modelo, achei fascinante as diferenças entre os dois trajes. Só tenho uma dica, faltou uma foto do seu traje pronto!

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femmeborda
07 de out.
Respondendo a

Muito obrigada! Quero realmente levar vcs comigo nesse processo, pois fazer algo pela primeira vez sempre me traz esse sentimento de estar desbravando haha A foto vai ficar para a última parte, sem spoilers aqui 😜

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